Animais foram escolhidos para fazer o transporte de drogas nas vielas do Morro dos Macacos
Natan Dias
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
Os traficantes do Morro dos Macacos, no Jardim Novo Campos Elíseos, região Sudoeste de Campinas, passaram a utilizar cavalos para transportar drogas, para fugas e monitoramento da presença da policiais na favela.
“Para fugir da polícia a gente faz de tudo, né”, disse um “olheiro” do morro, também conhecido como “fogueteiro”. São eles que ficam nas entradas da favela para avisar a chegada da polícia, inclusive soltando rojões.
O rapaz, que pediu para não ser identificado, estava sentado sob uma sombra, ao lado de um gramado, onde dois cavalos pastavam. “Tem mais lá em cima do morro além desses aí.”
De acordo com o capitão Edilson Aparício dos Santos, do 47º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPMi), a geografia do morro e as ruelas apertadas, dificultam a circulação de pessoas e a entrada da polícia para atuar no local.
“A ação em favela já é difícil e no morro, pelo tipo de relevo, somente pessoas ou motos conseguem circular ali. Mas cavalos, eu desconheço. Vou alertar o capitão responsável pela cobertura daquela área”, relatou Santos.
De acordo com moradores do bairro, é comum o roubo de cavalos de um local próximo pelos traficantes.
“Usam para fazer ‘aviãozinho’ (carregar droga), fugir e andar pelo morro. Isso tem mais de ano eu acho. Ali no Santa Lúcia também está cheio de cavalo. O pessoal faz o mesmo. Mas tem gente que usa para trabalhar honestamente também”, contou um morador. Por medo de represália, ninguém quer ser identificado.
O dono de um bar na entrada do bairro contou que não há muita violência, mas é comum ver animais soltos e usuários de droga até mesmo durante o dia sob a sombra de alguma árvore. “Tem mais cavalos lá no alto do morro. A gente usa para fugir, subir o morro e fazer as coisas aí”, contou o “olheiro”.
Captura
A tarefa mais difícil não é a captura desses animais, quando eles fogem para o asfalto e põem motoristas em risco, mas sim os momentos de tensão que passa quem faz esse serviço. “Quando somos chamados, sofremos intimidações e estamos a sorte de todo tipo de ameaças. Dependendo do bairro, quando avisam, sabemos que vamos enfrentar dificuldade não com os animais, mas com os bandidos”, contou uma funcionária do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas.
“Não é uma área rural, mas acontece ali muito roubo de cavalo, até mesmo entre os bandidos. Ficamos sabendo porque conhecemos a realidade do bairro e, quando ladrão rouba cavalo de ladrão, ninguém vai fazer boletim de ocorrência”, comenta a funcionária do CCZ. Segundo ela, bandidos chegaram a invadir a sede do centro para roubar animais. “Capturamos os bichos e, à noite, arrombaram o portão e levaram tudo outra vez. Eles não têm medo de nada, nem da polícia”, relatou. Este ano, o CCZ sofreu nove roubos de animais.
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