Somente até meados de outubro, número de apreensões cresceu 37% em relação a todo o ano passado. Para especialistas, aumento é provocado pela lei branda contra os acusados. Polícia investiga conexões com o exterior
Fonte: Correio Braziliense - Por: Rodolfo Borges
Ainda faltam dois meses para 2009 acabar, mas a quantidade de apreensões de animais silvestres no Distrito Federal já ultrapassa em mais de mil o número de espécimes apreendidos durante todo o ano passado. Em 2008, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) do DF e as polícias florestal, rodoviária, federal, civil e militar recolheram 2.825 bichos, que seriam vendidos nas cidades do DF ou encaminhados para outras regiões do país. Até a metade deste mês, o número de apreensões — que crescem anualmente desde 2006 (veja quadro) — já havia chegado a 3.885, um acréscimo de 37,5% sobre todo o ano anterior. E, por incrível que pareça, nenhuma pessoa envolvida com o tráfico de animais foi ou será presa.
O aumento progressivo das apreensões está diretamente ligado ao incremento na estrutura de fiscalização e reabilitação dos animais apreendidos na cidade, mas o Ibama-DF admite que o tráfico tem crescido na região, principalmente como consequência da impunidade dos traficantes. Atualmente, a punição para o crime de tráfico de fauna se restringe à aplicação de multas (leia matéria sobre o assunto na página 28). Além disso, Brasília é um bom mercado consumidor para os negociantes de animais. O Ibama estima que 40% dos moradores do DF que saem de férias voltam para casa com bichos comprados irregularmente nas redondezas do estado de Goiás.
Esses animais costumam chegar por rodovias federais, principalmente do Mato Grosso do Sul — de onde vêm aves canoras, de canto bonito — e da Bahia, mas Brasília também está inserida numa rota de tráfico aérea (veja ilustração). Os aviões geralmente partem da Região Norte. “São voos críticos. Não param aqui, mas passam e seguem para o Nordeste”, conta Hugo Américo Schaedler, chefe da Divisão de Gestão e Proteção Ambiental do Ibama-DF. De cidades nordestinas, como Recife, os animais partiriam para o exterior, especialmente a Europa.
Essa suspeita foi reforçada pela prisão de um português e de dois brasileiros que transportavam 452 canários peruanos pela BR-020 na caçamba de uma caminhonete. A apreensão, efetuada em 26 de setembro último no posto da Polícia Rodoviária Federal de Formosa (a 12km do DF), integra uma investigação do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil do DF, que faz um mapeamento sobre o tráfico de animais na cidade. “Ainda não temos dados concretos, mas passamos o caso para o Ministério Público e, pelo padrão de comportamento e pelo envolvimento de um português, acreditamos que existe, sim, uma rota para o exterior”, diz Schaedler.
Aves
Os dados coletados pelo Ibama de 2004 a 2008 mostram que as aves representam 80% dos animais apreendidos no DF. Os répteis aparecem em segundo lugar, com uma parcela de 14%, seguidos pelos mamíferos, que representam 7% das apreensões. Do Nordeste, o estado da Bahia é a principal fonte de tráfico para a capital federal. A região do Raso da Catarina é rica em papagaios e galos-de-campina, também conhecidos como cardeais.
Quando vêm da Bahia, os traficantes preferem circular pelas rodovias BR-101 e BR-116 — próximas ao litoral — para aproveitar a alta circulação de turistas. Eles também trazem periquitos, jabutis e saguis para o DF. “O tráfico só vende porque há quem compre”, adverte Schaedler. Para ele, Brasília poderia dar exemplo ao resto do Brasil, como fez quando o assunto era respeitar a faixa de pedestres.
Para Dener Giovanini, coordenador-geral da Ong Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), o cenário ainda é ruim, mas está melhor do que parece. “Com o trabalho de conscientização, as pessoas passaram a participar mais ativamente e denunciar”, considera Giovanini. Segundo ele, houve um aumento muito grande na conscientização da sociedade desde o relatório publicado pela Renctas em 2001. “Deixamos de perceber o tráfico de animais como um crime menor”, garante.
Colaborou Adriana Bernardes
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