sábado, 22 de maio de 2010

Japão diz que não abrirá mão de caça científica de baleia

Noticias - ANIMAIS - MUNDO
22-Mai-2010

Acordo propõe que país receba uma quota para caçar 400 baleias ao ano na Antártida se permitir observadores a bordo

Proposta será apreciada em junho em encontro de comissão internacional; ONGs consideram limite alto, e japonoses, baixo

Alfândega Australiana
Navio japonês com os dizeres "pesquisa legal" reboca baleias minke capturadas na Antártida
Navio japonês com os dizeres "pesquisa legal" reboca baleias minke capturadas na Antártida
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

O governo japonês afirmou que não pretende encerrar seu programa de caça científica de baleias, mesmo que um acordo internacional para regulamentar a captura desses animais seja fechado no mês que vem.

A declaração foi dada pela embaixada japonesa, em resposta a perguntas da Folha.

O país que mais caça baleias no mundo afirmou, no entanto, que está considerando uma proposta para incluir observadores a bordo de sua frota baleeira e realizar exames de DNA nos animais capturados.

O objetivo das medidas é garantir que não haja caça além da quota e que não sejam capturadas espécies ameaçadas, como a baleia-azul (o maior animal que já habitou a Terra), ou cujos estoques não sejam conhecidos em alguns lugares, como a jubarte (espécie que dá "braçadas" no ar quando salta).

A adoção do esquema de vigilância é um dos grandes pontos de um acordo que está sendo negociado e que pode levar à liberação da caça, com limites.

A proposta é do chileno Cristián Maquieira, presidente da CIB (Comissão Internacional da Baleia). Será debatida no fim de junho, na reunião da CIB, em Marrocos, e é foco de negociações diplomáticas intensas.

Ela prevê que a captura de baleias seja liberada por dez anos e estabelece uma quota de captura global de algumas centenas de exemplares por ano.

Um ponto polêmico é dar ao Japão uma quota de 400 baleias minke ao ano na Antártida, que se reduziria a 200 após cinco anos. Hoje, o oceano Austral é oficialmente um santuário de baleias, mas o Japão se permite caçar 900 animais ao ano ali, sob a desculpa de "pesquisa científica" relatada à CIB.

Trata-se de uma forma que o país encontrou de driblar a moratória imposta pela CIB à caça comercial em 1986, denunciada ano após ano por vários países -o Brasil, inclusive- como caça comercial disfarçada. A carne de baleia do programa "científico" abastece restaurantes e mercados no país.

O acordo proposto por Manquieira prevê a eliminação, pelos seus dez anos de vigência, de "caça à baleia determinada unilateralmente sob permissão especial, objeções e reservas".

A formulação tem três endereços certos: "permissão especial" é o caso da caça japonesa; "objeções", da caça islandesa; e "reservas", da Noruega, segundo maior caçador -que mata metade do número de baleias que o Japão mata.

"O Japão não tem tal ideia", afirmou a embaixada, questionada sobre se o país consideraria pôr fim à pesquisa letal.

Segundo o governo japonês, a caça no oceano Austral e no Pacífico Norte acontece para "atender a objetivos científicos, como remover incertezas em torno dos dados científicos em relação aos recursos baleeiros, mas não para atender à demanda por carne".

Pressão total

O Japão tem motivos para considerar a proposta de Maquieira: poucas vezes o país esteve sob pressão internacional tão forte para largar seu hábito de comer cetáceos.

A frota baleeira japonesa tem sido perseguida em águas antárticas pela ONG Sea Shepherd, que neste verão conseguiu impedir que ela cumprisse sua quota de captura. O embate levou à prisão de um ativista, que será julgado no Japão.

O governo da Austrália ameaçou neste ano adotar medidas legais contra o Japão caso o país não acabe com seu programa de caça científica.

Por fim, até Hollywood se engajou: neste ano, o Oscar de melhor documentário foi para o filme "A Enseada", de 2009, que denuncia o massacre de golfinhos no país. Para a embaixada, "o governo japonês não está em posição de dizer se ele teve ou não impacto negativo sobre a sociedade japonesa".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2205201001.htm


Ativistas podem ser condenados

DA REDAÇÃO

Dois ambientalistas japoneses que investigavam a indústria baleeira podem ser presos nas próximas semanas sem direito a suspensão de pena.

Segundo a ONG Greenpeace, Toru Suzuki e Junichi Saito expuseram um esquema de corrupção envolvendo membros do governo japonês e a empresa Kyodo Senpaku, que detém a frota baleeira.

Segundo o governo nipônico, os ativistas estão sendo processados porque entraram ilegalmente em instalações de uma empresa transportadora e roubaram uma caixa com carne de baleia.

O processo contra os chamados "Dois de Tóquio" foi objeto de análise do Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

O grupo concluiu que o Japão violou três artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos ao deter os ativistas, em 2008, e processá-los.

"O direito desses dois ativistas de não serem arbitrariamente privados de sua liberdade; seus direitos à liberdade de opinião e expressão (...) bem como seu direito de se engajarem em atividades pacíficas sem intimidação ou assédio não foram respeitados", afirmou o grupo.

"Nós não consideramos que a detenção e o processo contra os srs. Saito e Suzuki tenham sido arbitrárias", diz a embaixada. Segundo o governo japonês, a opinião do grupo de trabalho da ONU "não foi baseada em informações suficientes e acuradas".(CA)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2205201002.htm


Para latinos, proposta de acordo é deficiente

DA REDAÇÃO

Governos da América Latina reunidos na Costa Rica rejeitaram anteontem a proposta em análise na Comissão Internacional da Baleia que prevê a liberação da caça.

Segundo eles, o documento apresentado pelo presidente da comissão, Cristián Maquieira, está "muito abaixo das expectativas e precisa ser significativamente reformado".

Os 14 latino-americanos do chamado Grupo de Buenos Aires formam um dos blocos mais coesos nas negociações internacionais sobre baleias. Eles costumam votar em bloco por medidas conservacionistas.

O grupo se reuniu nesta semana na Costa Rica para debater sua posição em relação à proposta de acordo.

Um comunicado à imprensa divulgado na quinta-feira afirma que a proposta falha porque impõe aos países conservacionistas concessões imediatas -como admitir a caça oficial de um número grande de baleias- e ao mesmo tempo adia por dez anos decisões que poderiam significar derrotas para os baleeiros, como o banimento permanente da caça científica.

Mas a principal objeção do Grupo de Buenos Aires é o limite de captura proposto. Ele é considerado alto demais. No ano que vem, por exemplo, mais de 1.800 baleias poderiam ser oficialmente mortas no mundo inteiro caso a proposta passasse como está.

Não servem

Maquieira diz que mais de 4.000 baleias seriam salvas do arpão nos próximos dez anos caso a proposta seja aceita.

"Os números são críticos neste processo, e os da tabela 4 não servem", disse à Folha o ministro Fábio Pitaluga, negociador do Brasil na comissão. A tabela 4 é o trecho do documento de Maquieira que apresenta as quotas anuais.

Ambientalistas do mundo inteiro também têm criticado a proposta, que consideram um retrocesso. "Ela prevê a continuidade da caça no santuário [da Antártida], o que é absurdo", diz Márcia Engel, do Instituto Baleia Jubarte. (CA)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2205201003.htm


Frase

Ela prevê a continuidade da caça no santuário [da Antártida], o que é absurdo
MÁRCIA ENGEL
bióloga do Instituto Baleia Jubarte, sobre proposta de acordo na Comissão da Baleia

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