sábado, 13 de novembro de 2010

Carroças circulam por Maringá guiadas por menores

Noticias - ANIMAIS - BRASIL
13-Nov-2010
Luiz Fernando Cardoso

Paulo Henrique, carroceiro desde os 18 anos, trabalha com o irmão, de 11
Paulo Henrique, carroceiro desde os 18 anos, trabalha com o irmão, de 11
Uma média de 100 carroças, utilizadas na coleta de papelão, circulam diariamente por Maringá e quase 90% delas são conduzidas por menores de 18 anos ¿ e sem noções de trânsito.

O levantamento, informal, é da ONG Anjos dos Animais, que denuncia o trabalho infantil e os maus-tratos aos burros e cavalos empregados no serviço. Segundo a entidade, há casos de crianças de 10 anos largando os estudos para trabalhar como papeleiro e ajudar na renda familiar.

Ao acompanhar denúncias de maus-tratos aos animais, conta o integrante da ONG, Flávio Mantovani, os militantes se depararam com um problema ainda mais sério: a evasão escolar decorrente do trabalho infantil.

"Teve um moleque que relatou à ONG que, nos dias em que há mais trabalho, sai de casa antes de amanhecer para retorna só à meia-noite". Com o cansaço da dura jornada, diz o voluntário, abandonar a sala de aula é questão de tempo.

Uma realidade constatada já na primeira dupla de carroceiros abordada pela reportagem de O Diário, no Novo Centro, no fim da tarde de ontem. Condutor da carroça, Paulo Henrique dos Santos Balbino, 18 anos, revelou que desde os 12 anos trabalha como catador de recicláveis e que, de estudo, tem só o primário.
"Mas quero voltar a estudar, vou fazer supletivo ano que vem", disse entusiasmado, mesmo depois de um dia puxado de trabalho.

Seu irmão mais novo, de 11 anos, que já o acompanha na labuta, ainda não abandonou a sala de aula. "Me dá um cigarro tio", pediu o adolescente à reportagem, para em seguida ser repreendido por Henrique. O irmão mais velho, que fuma, não quer vê-lo no vício e nem fora da escola.

"Preciso trabalhar para ajudar minha mãe", revelou o carroceiro. O que se consegue com a coleta de papelão é superior ao auxílio da bolsa família ¿ que cobra frequência escolar, como contrapartida. Em média, diz Henrique, dá para ganhar R$ 1,6 mil por mês.

Falta legislação

Em Maringá, não há lei que proíba adolescentes de guiarem as carroças. Um dos problemas, esclarece Mantovani, é que o poder público peca ao permitir que as carroças trafeguem no quadrilátero central durante o dia ¿ o que é proibido por lei municipal.

Outro problema: na grande maioria dos casos, segundo a ONG, os carroceiros são de Sarandi e os cavalos penam para fazer o percurso de volta em função do peso da carga.

"A ONG recebe uma média de cinco denúncias, por semana, de maus-tratos contra esses animais. Notamos cavalos sem ferradura e até com a boca sangrando por causa do freio colocado errado", reclama.

Informado sobre o problema, o promotor Manoel Ilecir Heckert disse que a população deve procurar a promotoria correspondente e denunciar ao Ministério Público os maus-tratos aos animais e, principalmente, a exploração da mão de obra infantil.

"A promotoria tem poder para tomar medidas de proteção do menor e cobrar do poder público providências".

Quanto aos animais, a ONG recebe denúncias pelo telefone 9952-2194.

http://www.odiario.com/maringa/noticia/365284/carrocas-circulam-por-maringa-guiadas-por-menores.html

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