A cena comum de carroças no trânsito configura em crime previsto em lei. Porém, a fiscalização é ineficaz
NAS RUAS DO CRATO é comum ver carroças trafegando irregularmente no trânsito, atrapalhando o tráfego e provocando maus-tratos aos animais de tração. A fiscalização é ineficaz
ELIZÂNGELA SANTOS
Juazeiro do Norte -. As medidas de proteção aos animais estabelecidas na lei 4.645, de 1934, período do governo de Getúlio Vargas, mesmo quase 77 anos depois, continuam atuais. Os açoites, pesos em demasia, horas extenuantes, fome e sede, idade além da condição de trabalho, além de percorrem distâncias além de 10 quilômetros, como está na lei. É essa a realidade dos animais de tração, que estão nas ruas das cidades do Cariri.
A fiscalização parece fechar os olhos para um tipo de transporte de carga, que mesmo tendo diminuído em relação há alguns anos, ainda é bastante comum nas ruas das cidades interioranas. No Crato, um dos pontos mais conhecidos está na Rua Tristão Gonçalves, mais conhecida como a Rua da Vala. É lá que dezenas de carroceiros atuam, para ganhar. Mas há outros postos espalhados pela cidade, além dos que ficam trabalhando de forma ambulante.
Para o presidente do Instituto Brasileiro do Direito à Vida dos Animais e Meio Ambiente (Ibdvama), Francisco Pereira da Silva, no Crato, a fiscalização em relação aos animais de tração vem acontecendo. Ele afirma que o animal deve carregar até o dobro do seu peso, mas não diz o parâmetro para essa condição. "Para o animal de 200 quilos, pode levar até 400", diz. Isso, de acordo com o porte e as condições de saúde. Outro fator está relacionado à idade. Até 10 anos é o período ideal de trabalho. O que na prática, quase nenhum carroceiro segue, já que a média dita por alguns é de 25 a 30 anos. Procuram justificar pela hora de trabalho e o peso que o velho animal pode carregar. Muitas vezes o cansaço dos animais recebe o reforço do chicote, para que a atividade chegue a algum rendimento.
Preta é um nome carinhoso dado por Antônio Firmino a sua burra. Ela tem 18 anos, é magra, aparência cansada. Pode chegar a 30 anos, segundo o seu dono. Trabalha diariamente, mais no Centro da cidade. Dificilmente é deslocada pelo seu dono para bairros distantes. Segundo ele, o peso para o animal carregar é controlado. Pode chegar a uns 180 quilos. Firmino pode fazer de cinco a nenhum frete por dia. Ganhar R$ 40,00 ou nada. O dinheiro alimenta a família. É uma atividade que serve de sustento também para seu João Milton da Silva, que há cerca de 20 anos sobrevive da atividade de carroceiro. Ele diz que há pessoas que não têm a consciência de que maltratar o animal desde cedo desgasta para o trabalho, diminuindo a potência do animal. Confessa que há muito maltrato, mas procurar cuidar da melhor maneira do seu. "O animal zelado pode durar até 25 anos", diz.
Entre Crato e Barbalha é comum ver animais de tração viajarem cerca de 25km com 600 quilos, cerca de 10 sacas de arroz. A maioria dos carroceiros não se dá conta do problema de maus-tratos aos animais. É o senso comum e a experiência dos próprios carroceiros que dita a forma como devem explorar os seus animais. Desconhecem totalmente a lei. Inclusive, no Crato, a lei municipal de 1994, com base na legislação de proteção aos animais de 1934, diz que é crime passível de multa "toda e qualquer ação violenta contra os animais que implique em crueldade, especialmente com ausência de alimentação mínima necessária, excesso de peso, carga, tortura, e uso de animais feridos".
E é essa realidade que a Associação de Proteção à Vida (Aprov) pretende atuar. No fim deste ano, segundo a presidente da entidade, Anna Christina Farias, será iniciado um projeto voltado para os animais de tração. A ideia é sensibilizar os carroceiros em relação aos maus-tratos, mostrando o teor da legislação, que em alguns pontos prevê detenção de 3 meses a um ano e pagamento de multa. "É muito comum o abandono dos animais doentes, feridos, extenuado do trabalho", diz ela. Não se tem ainda um levantamento de quantos carroceiros atuam no município.
Proteção
"Vamos fazer um levantamento das condições dos animais de tração no Crato"
Anna Christina Farias
Presidente da Aprov
"Realizamos a fiscalização para que não haja exageros com os animais de tração"
Francisco Pereira da Silva
Presidente do Ibdvama
MAIS INFORMAÇÕES
Aprov: www.souprotetor.blogspot.com; contato.aprov@gmail.com
(88) 8845.3542
Ibdvama: (88) 9908.7896
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