domingo, 2 de maio de 2010

Jaguariúna: Pais revivem tragédia do rodeio e cobram solução

Noticias - ANIMAIS - BRASIL
02-Mai-2010

Quase um ano depois da morte de quatro jovens em Jaguariúna, caso ainda não teve um desfecho


Adriana Giachini
DA AGÊNCIA ANHANGUERA


Em 23 de maio do ano passado, quatro jovens morreram pisoteados durante um tumulto em um dos corredores de acesso à arena doJaguariúna Rodeo Festival. Prestes a completar um ano da tragédia, parentes das vítimas tentam superar a perda e retomar a rotina. Não é fácil. Além da saudade, um outro sentimento perturbador passou a ser companheiro diário: o inconformismo. Pais, irmãos, parentes e amigos dos jovens mortos ainda esperam respostas das autoridades sobre o que aconteceu naquela noite.

“Eu quero justiça. Quero que o responsável seja punido porque estou convencida de que meu filho morreu por culpa de alguém”, diz Jaqueline Avelar, de 43 anos, mãe de Ariel Foroni Avelar, morto aos 19 anos. “Me sinto exatamente como minha filha antes de morrer: encurralado, querendo gritar e me fazer ouvir, mas sem poder fazer absolutamente nada. Às vezes, sinto até a dor dela”, afirma o empresário João Laurindo Contrera, pai da estudante Vivian Montagner Contrera, na época com 18 anos.

Com um misto de dor e indignação, os pais enxergam na realização de uma nova edição da festa — a partir da próxima quinta-feira — uma afronta ao sofrimento imposto às famílias após a morte dos filhos. “Como é que se pode virar a página sem terminar de escrever a anterior? Não sou contra rodeios, mas não posso concordar que uma nova edição da festa seja feita antes que de entender o que deu errado na anterior”, argumenta Contrera. As famílias questionam a demora no andamento da investigação e, consequentemente, das punições aos responsáveis.

Somente na última segunda-feira — 11 meses depois de iniciar a investigação —, o Instituto de Criminalística de Mogi das Cruzes entregou os laudos pedidos pelos promotores de Justiça. A polícia recebeu os resultados na quinta-feira à noite, mas só a partir de amanhã, o delegado João Jorge Ferreira da Siva — que assumiu na sexta-feira a degelacia de Jaguariúna — inicia a análise dos documentos para dar continuidade ao inquérito. Por enquanto, o resultado não será divulgado, segundo ele, para não atrapalhar nas investigações.

De acordo com o Instituto de Criminalística, não houve demora na conclusão. O perito Francisco José de Oliveira Scafi argumenta que alguns documentos — como imagens feitas no dia do evento — só foram entregues em outubro. Além disso, o fato da festa ter continuado após o acidente dificultou o trabalho. “Também devemos considerar que somos cinco peritos para atender oito cidades”, justifica.

Sem o laudo, a polícia não poderia concluir o inquérito e apontar possíveis responsabilidades criminais (e de quais tipos). Além disso, apenas quando terminar a investigação policial é que o Ministério Público decidirá se aceita ou não denúncia contra os envolvidos no incidente trágico. Existem dois processos em andamento atualmente: uma ação civil pública e outro na área criminal.

A reportagem da Agência Anhanguera de Notícias (AAN) apurou que a polícia já reúne mais de 800 páginas no inquérito sobre o caso. Para a elaboração dos laudos, os peritos estudaram mais de 40 normas técnicas.

A partir de agora, começa uma nova fase do inquérito e mais testemunhas serão ouvidas, a maioria ligada à organização do evento. Na etapa inicial, a polícia colheu depoimentos de frequentadores da festa no dia da tragédia e de amigos dos jovens mortos. Agora, serão chamados responsáveis pela estrutura do evento no ano passado para que as análises dos peritos sejam confrontadas com as versões dos depoimentos.

O advogado Keith Nakano, que representa as famílias de Vivian e de Ariel, diz ainda que pretende contratar um perito para analisar o caso. “O laudo demorou demais para ficar pronto, principalmente por ser um documento essencial para o andamento do inquérito”, diz o advogado. Ele é contra a realização de uma nova edição da festa, sem que o caso fosse esclarecido. “A culpa existe, claro. Caso contrário, esses jovens teriam voltado para suas casas após o show”, argumenta. Os advogados da VPJ Produções, do empresário Valdomiro Poliseli Júnior, também terão apresentarão sua versão dos fatos em laudos do perito Ricardo Molina.

Além de Ariel e Vivian, que moravam em Campinas, morreram durante a festa Giovana Peretti, de 28 anos, de Cosmópolis, e Andréa Paola Machado de Carvalho, de 19 anos, natural de Goiânia (GO). Pelo menos outras 50 pessoas ficaram feridas.

O tumulto teria ocorrido por causa de uma briga iniciada na arena. Os jovens foram pisoteados no corredor, quando houve um embate entre os que desejavam sair da arena e os que pretendiam entrar. Na ocasião, a Justiça impediu que o evento fosse realizado nos dois últimos dias, cancelando a realização dos shows da dupla Victor e Leo e do cantor Roberto Carlos.


AS VÍTIMAS

VIVIAN MONTAGNER CONTRERA
Idade: 18 anos
Cidade: Campinas
Estudante do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus

ARIEL AVELAR
Idade: 19 anos
Cidade: Campinas
Estudante e representante comercial

ANDRÉIA PAOLA M. DE CARVALHO
Idade: 19 anos
Cidade: Goiania
Estudante de agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)

GIOVANA PERETTI
Idade: 27 anos
Cidade: Cosmópolis
Estudante de psicologia da Universidade de Araras (Uniararas)

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