Em Ribeirão Preto, eventos acontecem sem condições básicas de segurança; faltam ambulatórios e ambulâncias.
Pisoteado num desses eventos por um touro de mais de 500 kg, peão de 19 anos passou 22 dias em coma no hospital
HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO
"O sonho do meu filho era ser peão famoso em Barretos", conta o auxiliar de pedreiro Carlos Alberto Tavares, 46. Mas o sonho de Éder Luís Lima Tavares, 19, acabou com um acidente num rodeio clandestino.
Há quase um mês, ele está internado em estado grave na UTI de um hospital após ter sido pisoteado por um touro de mais de 500 kg.
O golpe atingiu o abdômen de Éder, que teve uma grave ruptura de fígado e da artéria hepática. Por isso, os médicos dizem que o rapaz não vai mais poder montar.
O caso dele não é isolado. Em Ribeirão Preto, em todos os finais de semana, ocorrem montarias sem estrutura mínima de segurança.
Não há ambulatórios ou ambulâncias que possam prestar socorro caso algum peão se acidente.
No caso de Éder, ele foi levado ao Hospital das Clínicas (onde ficou 22 dias em coma) no carro de um dos organizadores do evento. O pai diz que o jovem vai sobreviver, mas com sequelas que ainda desconhece.
IMPROVISO
No domingo passado, a Folha esteve em dois locais onde os rodeios são realizados em Ribeirão. Foi num deles, na estrada do Piripau -zona rural da cidade-, que Éder sofreu o acidente.
No outro, num terreno particular e de APP (Área de Preservação Permanente), a situação de risco é similar.
O diretor de rodeio da associação Os Independentes, de Barretos, Marcos Abud Wohnrath, afirma que o problema é generalizado. Pode ser visto em várias cidades, principalmente nas menores e mais próximas da capital.
Segundo o veterinário Orivaldo Tenório de Vasconcelos, coordenador do Ecoa (Centro de Estudos do Comportamento Animal), os eventos colocam em risco a vida dos animais.
FISCALIZAÇÃO
Órgãos fiscalizadores afirmam que precisam de denúncias da população para coibir os rodeios e que isso dificulta as ações.
Os organizadores admitem que não têm autorização para realizar os eventos. Apesar de eles não verem problemas para a prática, a reportagem constatou o contrário: até o público corre riscos, já que as arenas são improvisadas -uma delas é cercada por ripas finas de madeira.
Lá, os touros ficam horas em corredores estreitos. Os animais levam socos e chutes com esporas antes e depois de entrar na arena.
Ao contrário das esporas arredondadas usadas em rodeios profissionais, os peões utilizam outras, com pontas, que machucam ainda mais os touros.
Nada disso, no entanto, parece preocupar os peões que participam dos eventos. A maioria, amadores, não usa equipamentos de segurança, como coletes e capacetes, e conta com a sorte quando cai do touro.
Num dos rodeios, cada peão paga R$ 10 para competir e, em datas especiais, disputam prêmios -algumas competições oferecem motocicletas.
A prática é irregular e pode causar a interdição do local e recolhimento dos animais participantes dos rodeios.
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