Camila Nobrega
RIO - Em países que ainda não dão grande importância à vida de mamíferos habitantes do mar, o valor deles é medido em toneladas de carne que chegam à praia após a caça. Mas cada vez mais nações descobrem que, livres nos oceanos, esses animais podem não só garantir a biodiversidade, como dar bons retornos financeiros graças ao turismo. Tendo como foco o sucesso dos programas de observação de baleias pelo mundo, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) lançou, em parceria com o Fundo Internacional de Conservação Animal (IFAW), uma campanha para chamar a atenção do mundo para isso e apoiar o turismo sustentável em prol da vida desses mamíferos.
A ideia das instituições é divulgar que é cada vez maior o respeito aos mamíferos no mar e desencorajar práticas como a caça e matança de baleias e golfinhos. Como se sabe, esses rituais ainda existem em países como Japão e Noruega. Mais do que isso: elas esperam que o argumento econômico impulsione novos projetos de turismo ligados aos animais. Afinal, de acordo com a última pesquisa da Comissão Baleeira Internacional, com dados de 2008, a prática simples de observar baleias no mar atrai muita gente e movimenta, em média, US$ 2 bilhões por ano em 119 países. Espera-se que este número chegue a US$ 3 bilhões nos dados de 2010.
Segundo a gerente de campanhas da WSPA Brasil, Ingrid Eder, falta conscientização, não só por parte dos líderes como de turistas e caçadores:
- Tem que mexer com o lado econômico porque, se só usarmos o argumento do bem-estar animal, infelizmente, não tem a mesma força. Por isso a campanha vai mostrar que há um ganho econômico real com o turismo sustentável, que depende da manutenção da vida dos animais. Pretendemos incluir essa discussão inclusive na Rio+20, em 2012.
De acordo com Ingrid, o turismo de observação de baleias no Brasil atrai cerca de 200 mil visitantes por ano. E os principais destinos são as cidades de Imbituba, em Santa Catarina, a ilha de Fernando de Noronha e Abrolhos.
Mas, como o mercado está crescendo e se multiplicam as operadoras de turismo que oferecem pacotes com essa finalidade, segundo Ingrid, é bom ficar de olho na hora de escolher. Embora haja lucro gerado pela atividade, a saúde dos animais precisa vir sempre em primeiro lugar:
- É preciso manter uma boa distância das baleias e à noite não se pode colocar luzes em cima delas: ficam cegas e estressadas. Além disso, operadoras que de fato mantém turismo sustentável investem em educação, meio ambiente e têm um componente social, com guias locais que atuavam como caçadores de baleias e pescadores.
A representante da WSPA sugere que o turista faça uma pesquisa antes de contratar um pacote, para saber se há participação da comunidade, por exemplo. As associações de proteção aos animais estão apostando nesse caminho para salvar os animais da extinção.
Já em toda a América Latina, as operadoras têm registrado um aumento que chega em média a 11,3% no turismo destinado às baleias. É um percentual maior do que o próprio aumento do mercado turístico no mundo, segundo relatório lançado no final de 2010 pela IFAW. E o Brasil é o segundo no ranking, só atrás da Argentina.
Caça ainda não foi abolida
Ainda há países onde a caça de baleias e golfinhos é expressiva, como o Japão, a Noruega e a Islândia. Existe um esforço internacional para reduzir a matança, feita tanto por fins econômicos, como de pesquisa e dentro de rituais tradicionais, argumento já usado por países escandinavos. Uma frase do médico inglês Harry D. Lillie, que passou uma temporada a bordo de um navio baleeiro na Antártica, ficou famosa em meados do século XX, descrevendo o sofrimento dos animais: "Se as baleias pudessem gritar, a atividade cessaria, pois o som seria insuportável." Só agora o cenário está mudando. Segundo relatório da ONG WWF e do Greenpeace de 2010, muitos japoneses já pararam de comer carne de baleias, e o país não sabe o que fazer com o estoque.
Fonte: http://www.wspabrasil.org/
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