Carnavalesco planeja levar jaguatirica e onça parda para o sambódromo paulistano. Ibama adverte que punirá escola por crime ambiental
Carolina Freitas
O carnavalesco Chico Spinoza jura, por amor aos animais, nunca ter matado sequer uma formiga. Enfrenta agora um dilema: não sabe se leva para o desfile da Tom Maior no sambódromo de São Paulo uma jaguatirica, uma onça parda ou uma ave exótica. Mas já sabe como apresentar os animais na avenida: “ora, usarei gaiolas.”
Spinoza acha a proposta “ecológica”. O Ibama pensa diferente e avisa: se os bichos entrarem na avenida, punirá a escola por maus tratos e exposição ilegal de animal silvestre, crimes federais previstos em lei. “Eu não entendo os ambientalistas”, reclama Spinoza. “Quero apenas levantar um grande alerta sobre os ecossistemas, que estão sendo consumidos.”
A veterinária Ingrid Eder, da WSPA Brasil, braço da sociedade mundial de proteção aos animais, explica: “O estresse de um bicho colocado no meio de um desfile de samba corresponde ao de uma pessoa com um revólver apontado para sua cabeça. Ele não compreende a situação. Ele se vê acuado, sem saída, em meio a um barulho ensurdecedor e milhares de pessoas.” A situação é ainda mais difícil para os felinos, que têm a audição mais apurada que a humana.
O enredo da Tom Maior homenageia São Bernardo do Campo. Na concepção de Spinoza, os animais ajudam a contar o passado da cidade, em meio a florestas e índios. “Tudo foi extinto, consumido”, diz o carnavalesco, em compasso com o samba da escola, que pede: “vamos por a mão na consciência, no futuro preservar é a saída.”
Crime ambiental – Segundo Spinoza, os animais serão emprestados de um sítio que costuma alugá-los para propagandas e eventos. “Eles dizem que são legalizados”, diz o carnavalesco, mostrando preocupação com a atuação do Ibama. “Pedi a um amigo que veja para mim a autorização do Ibama. Terça-feira teremos a resposta.” O órgão disse não ter recebido qualquer pedido.
O coordenador de Autorização e Gestão do Uso da Fauna do Ibama, Clemerson Pinheiro, compara a ideia da Tom Maior à exibição de animais em circos, proibida no país. Apenas zoológicos têm autorização para expor animais e, para isso, devem cumprir um rol de exigências. De outro modo, expor publicamente animais silvestres caracteriza infração ambiental, segundo Pinheiro. A lei de crimes ambientais, de 1998, prevê prisão de três meses a um ano e multa a quem praticar abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos, nativos ou exóticos.
Urubus – Em outubro do ano passado, o artista Nuno Ramos construiu um viveiro gigante no saguão da 29ª Bienal de São Paulo onde expôs a obra Bandeira Branca, da qual faziam parte três urubus vivos. Antes da abertura da mostra, manifestantes colheram 3.000 assinaturas contra a presença das aves e protestaram diante do prédio da Bienal. Em meio à pressão, a Justiça Federal de São Paulo, a pedido do Ibama, determinou a retirada dos urubus do local e a devolução deles ao Parque dos Falcões, em Sergipe.
No caso dos animais da Tom Maior, o Ibama informou que nada pode fazer para impedir o desfile dos bichos. O que pode fazer é puni-la, caso consumada a intenção. A WSPA informou que, se houver anuência do órgão federal para a exposição dos animais, irá à Justiça Federal para impedi-la.
Diante da confusão anunciada, o presidente da escola, Marko Antonio da Silva, esquiva-se. “O carnavalesco é que decide. Eu só pago as contas. Mas vetar a presença dos animais, isso que não vou.”
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/tem-onca-no-samba
Nota T.A.: A Tom Maior com a insistência em levar animais silvestres para um local totalmente inapropriado ocasionando com isso maus-tratos aos animais estará cometendo um crime e andando na contra-mão da história.
Três anos atrás no carnaval de 2008 a Tribuna Animal organizou o primeiro (e infelizmente o unico até o momento) desfile de escola de samba sem penas, plumas ou qualquer outro adereço de origem animal - clique aqui para ver.
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Jaguatirica no carnaval causa polêmica
Escola Tom Maior ainda não pediu autorização ao Ibama para colocá-la no desfile; para veterinários, exposição de animais é ''absurda''
17 de fevereiro de 2011 | 0h 00
Candinho Neto, Marcela Spinosa e Marici Capittelli - O Estado de S.Paulo
Uma jaguatirica estará no Sambódromo do Anhembi no carnaval deste ano. Ela será levada pela Escola Tom Maior. A agremiação pretende usar ainda um segundo animal - uma suçuarana ou um lagarto. Embora os felinos estejam ameaçados de extinção, a entidade não pretende pedir autorização para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por temer que ela não seja concedida. Veterinários consideram a exposição dos animais "absurda" e dizem que eles podem até morrer por estresse.
A Tom Maior, que vai homenagear a cidade de São Bernardo do Campo e pretende ainda trazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, justificou a presença dos animais. "Queremos fazer uma brincadeira e passar a mensagem da preservação", disse o presidente da agremiação, Marko Antonio da Silva.
Ainda não está claro se as feras vão ou não desfilar. Silva deu duas versões à reportagem sobre a atuação dos bichos. No domingo, garantiu que eles desfilariam e a documentação havia sido enviada ao Ibama. Ontem, o presidente afirmou que os animais não entrarão na avenida. "Eles vão ficar em jaulas com rodinhas e vão até a concentração." A ideia é que os animais fiquem antes da comissão de frente. Assim que o desfile começar, as jaulas seriam levadas para outro ponto da concentração.
Silva ainda garantiu ontem que não vai pedir autorização ao Ibama, apesar de ela ser obrigatória. "A ideia é não falar, porque eles não vão autorizar e vão estragar nosso feito."
Segundo o Ibama, a Tom Maior precisa de autorização do órgão para o transporte dos animais ao sambódromo e eles devem viver em criadouro registrado no instituto.
Para o advogado ambientalista Carlos Cipro, a presença dos animais é "estresse injustificável". Segundo ele, ficam caracterizados abuso e maus tratos pela Lei de Crimes Ambientais. Ainda existe uma lei municipal que proíbe a exposição.
A São Paulo Turismo (SPTuris), responsável pela organização do carnaval paulistano, diz que o caso deve ser analisado pela Liga das Escolas de Samba. Já o regulamento do carnaval é omisso em relação ao caso.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110217/not_imp680620,0.php
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