Seu grupo obteve 180 mil assinaturas pedindo o fim da tradição na região.
Para ele, decadência das touradas é sinal de 'evolução da sociedade'.
João Novaes
Do G1, em São Paulo
O ativista Manel Maciá Gallemi é um dos responsáveis pela criação da Plataforma Prou! (ou “Basta!”), que pode decretar o fim das touradas em toda a região da Catalunha. Com a participação de 800 voluntários, conseguiram colecionar 180.169 assinaturas (quando apenas 50 mil eram necessárias) em quatro meses favoráveis à proibição das corridas de touros.
Presidente do Partido antitaurino contra os maus tratos dos animais (Pacma), tem fé de que, em um futuro não tão longínquo, todo o país estará livre do que ele chama de as touradas.
G1 – Como a “Prou!” começou e quais são seus êxitos e objetivos?
Gallemi – Nossa associação foi formada em agosto de 2008, com o objetivo de criar uma ILP (Iniciativa Legislativa Popular) no Parlamento Catalão. Começamos com onze membros de diferentes organizações de defesa animal. Não nos aliamos com qualquer partido político em especial. Nossa ideologia é combater o sofrimento dos animais e, nesse caso da Catalunha, abolir as touradas o símbolo da crueldade do homem para com os animais. Nossa única ação foi criar e apresentar a ILP ao Parlamento.
G1 – O site official de vocês foi violado na semana passada. Vocês tem sofrido algum tipo de pressão mais agressiva por parte dos taurinos?
Gallemi – Recebemos alguma ameaças via-e-mails. Porém, hackear nosso site foi a ação mais efetiva deles. O lobby taurino é muito forte na Espanha e eles provavelmente farão tudo o que puderem para persuadir os deputados catalães a votarem contra a proibição, com medo de um efeito dominó.
G1 – A tradição da Tauromaquia é muito antiga na Espanha. Em muitos países, muitas vezes o país é associado com o touro. Por que esse laço é tão forte?
Gallemi – Muitos espanhóis sentem-se envergonhados por serem automaticamente associados à tourada. Essa associação não é mais representativa do que, por exemplo, o inglês com seu chapéu-coco. É normal para todos reduzirmos uma nação a um estereótipo, mas isso é feito sem reflexão. Pois, embora nos associem com a imagem do touro, normalmente não sabem o que se passa em uma tourada.
G1 – Por que as touradas devem ser banidas da Catalunha? Qual é a popularidade do evento em relação a outras regiões do país?
Gallemi – A popularidade desse evento na Catalunha decaiu muito. Atualmente, só parece ter mantido sua popularidade entre os homens mais velhos. Surpreendentemente, a popularidade das touradas na Espanha não é tão grande quanto se imagina. O movimento antitaurino é muito forte em outras regiões do país e, só na Andaluzia, um dos principais redutos do evento, tivemos onze demonstrações contrárias. E não podemos esquecer a grande manifestação que estamos preparando neste domingo (28) em Madri.
G1 – Vocês planejam abolir as touradas em todo o país, mesmo em regiões onde ela é mais forte? Seria uma possibilidade realística a curto prazo?
Gallemi – Somos todos voluntaries aqui e não temos outros planos após essa ILP. Mas esperamos que o exemplo se espalhe. Mas primeiro vamos ver o que se passará na Catalunha.
Em passeata contra as touradas em Madri, manifestantes simulam o sofrimento dos touros, enquanto a mão simboliza o lema do movimento: 'Basta!' (Foto: Susana Vera/Reuters)
G1 – A “Prou!” tem provocado repercussões no resto do país?
Gallemi – Sim, nunca tivemos tantos debates na televisão e nas rádios, nem tantos artigos publicados em jornais a respeito. Pelo menos esse tema tem sido mais discutido livremente e as pessoas se tornado mais conscientes a respeito do sofrimento dos animais.
G1 – Por outro lado, a proibição às touradas não seria interpretada como uma violação contra os direitos individuais?
Gallemi – Os socialistas interpretaram por esse ângulo. Que a proibição limitaria nossa liberdade individual. Não concordamos com esse argumento porque neste caso se configura um elemento de crueldade. Veja, todas as democracias limitam a liberdade quando isto serve para beneficiar os interesses da sociedade como um todo. Por exemplo: fumar é permitido, mas em determinadas áreas, não. E isso é aceito. Também levamos em conta o direito do touro de não ser torturado e assassinado em um espetáculo público.
G1 – Em teoria, qual situação seria mais aceitável: uma lei que proibisse a Tauromaquia em todas as suas variações; ou um contínuo declínio de interesse de todos os espanhóis que acabasse decretando o fim das touradas por morte natural?
Gallemi – Torcemos por uma proibição imediata porque estamos defendendo os animais acima de tudo. Torço para que os politicos também pensem assim e obtenham uma vitória da ética sobre essa tradição bárbara.
G1 – A decadência da Tauromaquia pode ser considerada uma evolução na sociedade espanhola?
Gallemi – Não tenha dúvida. Lembre-se: as touradas morreriam amanhã mesmo se não existisse um pesada subvenção do pode público.
G1 – A “Prou!” é uma entidade anti-especista? Ou vocês consideram ser possível se aliar à luta contra as touradas sem seguir os preceitos do animalismo ou do veganismo?
Gallemi – Claro que é possível. A maioria das pessoas abomina o sofrimento desnecessário aos animais, mesmo que elas comam carne. Elas em geral fazem distinção entre o sofrimento gratuito para entretenimento e o sofrimento necessário envolvido na produção de carne.
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