domingo, 17 de outubro de 2010

Curitiba/PR: Unificado apóia vivisecção e expulsa aluna

Noticias - ANIMAIS - BRASIL
16-Out-2010
Por Cmi Curitiba 12/10/2010 às 20:22

No dia 12 de julho, uma aluna do terceiro ano foi expulsa do Colégio Unificado. Mas o que era para ser um fato normal e corriqueiro (a expulsão de um aluno por indisciplina) esconde um fator político que motivou a expulsão da menina.

No início do ano de 2010, o Professor Gabriel Skiba apresentou o plano de estudos que os alunos teriam ao longo do ano, e neste plano estava presente a manipulação de seres vivos em laboratório. Já neste momento a aluna buscou colocar um debate ético acerca da manipulação de seres vivos. Este é o mesmo debate que a ciência busca esquivar-se, pois sempre os seus "inventos" tendem a visar o bem-estar do homem, mas o monstro que se cria com as manipulações dos seres vivos em laboratório respondem a interesses políticos de dominação tanto do homem com a natureza como a dominação do homem em relação a outros homens.

Desde já podemos ver qual a pertinência da questão da aluna. Mas, a pergunta que se revela está ligada a função que a escola cumpre no processo de educação do aluno, se esta educação visa meramente o mercado de trabalho (produção de mão-de-obra) ou se ela pretende proporcionar meios pelos quais os alunos possam começar a pensar por si mesmos?

O sufocamento do pensamento, que a aluna estava trazendo para o centro das aulas de biologia, pode ser visto como um sufocamento do pensamento político da aluna, pois escondeu um debate que a própria ciência, da qual o professor de biologia é tributário, busca esquivar-se. No decorrer da exposição dos fatos ficará cada vez mais evidente que a expulsão da aluna, por contestar um plano de aula, ocorreu por motivos políticos. Como o terrorismo praticado pela escola com os alunos que ficaram, assim como a barreira montada pela escola evitado que a aluna pudesse mudar de escola em tempo hábil para conseguir terminar o ensino médio no ano de 2010.

Os Fatos

No começo do ano, o professor anunciou que iria fazer experiência com animais.
A aluna questionou essa atitude, como também recorreu ao diretor para evitar que isso acontecesse, mas o diretor disse que não estava na sua alçada.
A aluna pediu para o professor dizer com antecedência o dia da experiência, para promover um debate sobre vivificação e a crueldade com os animais, para que os alunos pudessem escolher se queriam fazer ou não a experiência, e isso não aconteceu.
A experiência foi feita com minhocas, elas foram retiradas do jardim, eram seres saudáveis que estavam sendo dissecado com o objetivo de ensinar algo aos alunos.
Mas são só minhocas!, alguem afirmou. Porém, a aluna respondeu que isso abre um precedente para que o professor também manipule animais maiores.

No dia da experiência, um grupo de 10 alunos se reuniram para pensar em alguma ação que pudesse barrar a experiência com animais na escola. Começaram fazendo uma carta, mas decidiram por uma ação direta não-violenta. Eles escreveram na parede que o Unificado (a escola em questão) apoia a vivificação, e também escreveram frases pela libertação animal.

A aluna admite que foi uma atitude impensada, mas foi adequada para o momento.

Logo após deste ato, as pessoas começaram a incriminá-la, um dos professores disse ter certeza de que tinha sido ela a autora dos atos, mas, como no relato da aluna, ninguém a viu escrevendo nas paredes, "os alunos cuidaram da porta e eles não tinha indicação nenhuma de que fui eu", afirmou a aluna.

A aluna disse "houve uma grande pressão psicológica para que eu assumisse". O diretor levou ela até o ocorrido e afirmou que tinha sido ela a responsável pelo ato, contudo, outros colegas assumiram o fato. O diretor ameaçou expulsar mais de dez alunos. "Foi tanta a pressão que eu resolvi assumir o Ato", afirma a aluna.

Ao contrário daquilo que esperamos, não houve qualquer medida pedagógica em relação ao ato da aluna, a escola optou pela expulsão da aluna. "Houve muito apoio dos alunos em relação a minha causa. Eu pensei que eles iriam tomar outra medida pedagógica, e não a expulsão", disse a aluna.

A aluna foi expulsa, se não bastasse isso o colégio também cobrou uma taxa de R$800,00 de "manutenção da parede", caso a aluna não pagasse o colégio não liberaria os documentos para a transferência.

A ameaça continuou, caso a aluna não pagasse o colégio, este iria entrar na justiça contra ela. Além da ameaça que a aluna sofreu, o restante dos colegas estão sendo perseguidos. O professor disse perante a turma que foi uma pena a sua expulsão, pois ele irá seguir com os experimentos. E a aluna não terá nada o que fazer. Contudo, a aluna disse que "mesmo estando fora do colégio, estamos reunindo os alunos para informar o que é vivisecção".

A aluna afirma que "até então o colégio era bem aberto aos alunos, mas a relação era despolitizada, quando comecei a trazer o movimento passe livre pra dentro do colégio era tranquilo, mas tive duas ocorrências por motivos pessoais e daí começou a perseguição. No começo quiseram barrar somente o Movimento Passe Livre". Este fato parece indicar que a escola tolerava a organização dos alunos enquanto estes se mantinham alienados dos problemas políticos. Qualquer "desvio" no comportamento do aluno é motivo para tratá-lo como indisciplinado. A escola como as prisões ocupam um espaço na busca por impor barreiras àqueles indivíduos que "estão fora da ordem", isto é, não se enquadram no padrão de homem passivo imposto pela sociedade através destas instituições.

A aluna tem consciência da repercussão da atitude do professor, como também sabes dos reflexos destas atitudes na formação dos alunos. Ela diz que "o problema não são os animais que vão ser sacrificados, o problema é o exemplo que o professor está dando. Ele está afirmando para os alunos que os animais foram feitos para satisfazer as necessidades humanas, algo que não é verdade".

Antes da ação direta não-violenta, a aluna interrogou o professor acerca da procedência dos animais, e o professor disse que seriam ratos de laboratório, então a aluna afirmou que ele estava em coluio com a vivisecção. O professor respondeu que não, só estava dando uma outra finalidade ao rato, já que este tinha perdido a sua utilidade. O que chocou a aluna foi o tratamento dos seres vivos como se fossem objetos, como assim eles perdem a sua utilidade e são descartáveis? "Este é o exemplo que ele está dando pro alunos. Como se os animais existissem para servir ao homem. Ele está perpetuando este esquema de Servidão".

No limite a aluna acredita que, a partir desta experiência, foi formada uma consciência. "Antes a vivisecção era uma coisa muito distante, agora ela tá aí".
Não houve repercussão no colégio nem fora dele, tampouco os pais dos alunos envolvidos souberam do fato. O colégio quis abafar esse assunto, só a família da aluna foi informada.

A aluna termina afirmando que "a formação de um aluno cidadão não existe, o interesse do colégio é formar para o mercado de trabalho ou para o vestibular. Acho que a libertação animal é o que vai fundamentar a libertação social. Não é possível uma sociedade que haja tratamento igual com os animais sem adotar uma igualdade humanitária. Uma escravidão leva a outra".

Longe de ser um evento isolado, é recorrente a tentativa de aplicar medidas "pedagógicas" para "remediar" a rebeldia daqueles que não se dobram à ordem vigente. As escolas e as cadeias, dentro dos sistemas, cumprem com a função de re-inserir o indivíduo na ordem vigente, isto é, modelar sua personalidade para que se enquadre no padrão social estabelecido pela classe dominante. Assim, longe de formar pessoas que possam pensar por si mesma, a escola no máximo forma mão-de-obra barata, e quando esta busca a re-abilitação do aluno indisciplinado ela só consegue aumentar a indisciplina e a rebeldia do aluno.

http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2010/10/478785.shtml

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