Especialista diz que o carrapato-estrela diversas “estratégias” de sobrevivência e seu extermínio é impossível
Natan Dias
O extermínio do carrapato-estrela — transmissor da febre maculosa — do Lago do Café, como a Prefeitura de Campinas pretende, é praticamente impossível, segundo o pesquisador titular do Instituto Oswaldo Cruz e especialista em acaralogia, Nicolau Serra Freire.
Autoridade internacional no tema, ele cita como exemplo o caso de uma região do Rio de Janeiro que recebeu parte do Jogos Pan-Americanos e onde um grupo de especialistas conseguiu apenas controlar o problema por um período de três anos. Autor de um artigo intitulado “Carrapato duro de vencer”, que trata sobre a espécie, ele afirmou que esse tipo de ácaro possui diversas “estratégias” de sobrevivência. Além disso, afirma que a ação desse bicho é “inespecífica”, pois ele se alimenta de qualquer animal, seja de sangue quente ou frio.
“Se você elimina as capivaras (hospedeiras do carrapato), eles vão picar outros animais, mesmo cobras e sapos. Eles também possuem um exoesqueleto muito avançado, o que lhes garante uma incrível resistência”, disse. O carrapato-estrela pode sobreviver dez dias totalmente submerso na água, por exemplo. “Ele diminui o metabolismo e possui uma estrutura que o permite guardar oxigênio. O fogo também não elimina as larvas, pois a pressão atmosférica formada com a temperatura do ar faz com que elas voem para fora das áreas de incêndio”, explicou.
A Prefeitura anunciou no início desta semana — após o abate de 14 capivaras confinadas por causa do risco de febre maculosa — que vai abrir uma licitação dentro de duas semanas para contratar uma empresa para descontaminar e revitalizar o Lago da Café. Segundo o coordenador de Comunicação da Prefeitura de Campinas, Francisco de Lagos, o edital está em fase de elaboração. “Não será uma ação isolada, apenas de manutenção do espaço, mas uma ação conjunta. Será buscada uma empresa que tenha capacidade de realizar todas as ações de descontaminação. Agora entramos em outra etapa”, afirmou.
Serra Freire diz desconhecer qualquer empresa especializada na erradicação de carrapatos. “O que pode ser feito é montar um grupo de estudo para conhecer o ambiente em que esses carrapatos vivem e se reproduzem. Só então ele pode ser combatido, mas não eliminado. Uma medida para controlar é evitar circulação de animais de grande porte. Os estudos podem levar até um ano para ficarem prontos. Depois é que se começam as ações, que podem demorar até um ano para ter efeito.” Mesmo assim, ele considera que podem ocorrer casos de febre maculosa.
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