Devido à crise muitos já não conseguem assegurar alimento e tratamento dos animais, aumentando também risco de abandono
A crise económica está também a ser sentida pelos animais. Sem dinheiro para pagar os tratamentos veterinários ou mesmo para comprar comida ao seu animal de estimação, os donos vêem-se muitas vezes obrigados a pedir ajuda às associações dos direitos dos animais.
Depois de anos a lutar contra o flagelo do abandono dos animais, a presidente da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais (LPDA) tem pela frente um combate «muito maior»: ajudar os donos dos animais a matar a fome dos seus cães e gatos e a garantir que estes vão ao médico, pelo menos quando estão doentes.
«As pessoas dantes pediam-nos descontos nos tratamentos clínicos ou, quando adoptavam um animal, ajudas pontuais na alimentação. Actualmente, ligam-nos em pânico porque têm o animal doente, mas não têm dinheiro para pagar o que quer que seja no veterinário. Nem às prestações», acrescentou.
Maria do Céu Machado confessa que já tem medo quando o telefone toca, pois sabe que do outro lado há-de estar um apelo dramático: «As pessoas ficaram sem emprego, ganham pouco ou nada e não conseguem suportar o custo das vacinas, dos tratamentos e até da alimentação. Nós, organizações, também estamos à beira do abismo, pois não temos dinheiro».
O maior receio da presidente da LPDA é que esta crise leve as pessoas a desfazerem-se dos animais e não são poucos os sinais disso mesmo que recebe diariamente.
«Há quem ameace abandonar os animais se não ficarmos com eles», contou, sublinhando que os canis estão cheios, mas vazios de meios para dar tanta resposta.
Maria do Céu Machado acha que só uma ajuda do Governo pode evitar o pior, defendendo por isso que o IVA nos tratamentos veterinários e na alimentação para animais desça dos 23 por cento.
«Os animais têm de comer e, se a alimentação se mantiver a estes preços, serão muitos os cães e gatos com fome, mas também os donos que, muitas vezes, deixam de comer para que nada falte ao seu melhor e, às vezes, único amigo».
Veterinários temem perigo para a saúde pública
Por outro lado, a Ordem dos Médicos Veterinários teme que o aumento das dificuldades dos donos afaste muitos animais dos consultórios que, quando a situação piorar, o abandono aumente e logo o perigo para a saúde pública.
Esta diminuição das verbas, explicou Laurentina Pedroso, reflete-se num maior espaçamento entre idas ao veterinário, redução ou eliminação de alguns tratamentos, mas também num aumento do sacrifício daqueles a quem, normalmente, já custa tratar do seu animal.
«Os que vivem estrangulados com as dificuldades são os que mais sacrifícios têm de fazer para garantir cuidados de saúde aos seus animais, que muitas vezes são tudo o que têm na vida», disse.
Para Laurentina Pedroso, o grande receio desta crise ao nível dos animais de companhia é o aumento do seu abandono, que já é um problema grave em Portugal.
«Algumas pessoas tentam deixar os animais nas clínicas, porque dizem que não têm meios de os sustentar, depois tentam nos canis. O que receamos é que, na falta de resposta, esta seja o abandono», sublinhou.
Alerta também para «as graves consequências que um aumento substancial do abandono dos animais tenha, não só para os próprios, como para a população em geral».
«Animais abandonados, sem cuidados de saúde, são fontes de doenças para os humanos. Quando abandonados nas estradas, são potenciais causas de acidentes de trânsito», disse.
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