Vera Ramalhete
Foto: Pedro Cunha O partido pode vir a ter entre um e três deputados na AR, defende o político |
O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) quer consagrar na Constituição a capacidade dos animais de sentirem dor ou prazer e bem-estar.
A felicidade, dos seres humanos e não-humanos, é uma preocupação central de Paulo Borges, um dos quatro fundadores do novo partido. Professor de Filosofia na Universidade de Lisboa, Borges é presidente da Associação Agostinho da Silva, do Movimento Internacional Lusófono e da União Budista Portuguesa, além de ser um dos fundadores da Associação Portuguesa para o Estudo das Religiões. O político tenciona candidatar-se à presidência do partido.
Por que considera necessário criar um partido pelos animais e pela natureza e não apenas um movimento?
Pensamos que em Portugal não existe um partido que coloque a relação do homem com os animais e com a natureza no centro das suas preocupações e é esse o objectivo do nosso partido. E, a partir daí, repensar toda a política, toda a organização social e todo o paradigma do desenvolvimento económico. Existem muitas associações de defesa dos animais e do ambiente, muitos movimentos ecológicos e tem havido uma intervenção cívica nesse sentido. Mas depois isso não se traduz em nada se não houver representação política no Parlamento.
Mas existem outros partidos com preocupações ecológicas, como o Partido Ecologista Os Verdes (PEV), com assento parlamentar.
O PEV lamentavelmente não tem tido essa acção. Nós respeitamos o trabalho deles, mas o PEV não tem tido um projecto alternativo, fora do próprio projecto do PCP e da coligação da CDU.
O programa do PAN inclui um programa de Governo ou pretendem focar-se apenas nas questões dos animais e da natureza?
Nós começamos por ser um partido de causas, a nossa ideia é criar uma força política que seja uma voz activa em defesa dos seres mais oprimidos, sejam humanos ou não-humanos, e em defesa do equilíbrio ecológico do qual todos nós dependemos. Mas um partido de causas que tenha esta abrangência tem que ter uma visão da sociedade global. Nesse sentido, nós temos já grupos de trabalho nas mais diversas áreas que estão a preparar um futuro programa político, que será um programa abrangente, onde podemos encontrar uma proposta para a sociedade no seu todo. E nesse sentido porque não assumi-lo como um programa de governo?
E quais seriam as bases desse programa?
No fundo, a assunção de um programa de governo em que se visasse o bem-estar e a felicidade. Quer dos seres humanos, quer dos seres não-humanos. Onde as pessoas não vivessem para trabalhar. Já se tem falado que talvez o mais importante não seja o produto interno bruto, mas a felicidade interna bruta. Foi o primeiro-ministro do Nepal que surgiu com esta ideia e nós achamos muito interessante.
Como pretendem alterar os hábitos alimentares dos portugueses?
O que nós propomos não é obviamente que todos os portugueses se tornem vegetarianos, mas que as pessoas reflictam sobre o impacto do excessivo consumo de carne. Nós propomos, por exemplo, um dia vegetariano por semana. Isto é assumido em muitas cidades da Europa. Geralmente, ou é à segunda ou à terça-feira. As pessoas abstêm-se voluntariamente de comer carne como contributo para o bem-estar dos animais e para o equilíbrio ecológico. Isto é uma coisa perfeitamente acessível aos portugueses, ninguém morre por ser vegetariano um dia por semana. E assim até pode descobrir que se sente melhor com esta alimentação e querer aumentar os dias em que não come carne.
Numa altura em que a tendência é para reduzir os apoios do Estado, como pretendem introduzir a possibilidade de dedução no IRS de medicamentos, cuidados veterinários e alimentação dos animais de estimação?
Nós estamos aqui para contrariar as tendências dominantes. E sabemos que vamos contra a política actual do Governo, mas vamos a favor de uma necessidade social existente: há muitas pessoas em Portugal que têm animais de estimação e para as quais eles são muito importantes, não são meros objectos, meros adereços, são uma companhia. E essas pessoas, muitas delas idosas, vivem muitas vezes com pensões irrisórias e ainda têm que suportar os gastos com os seus animais, que são fundamentais para elas. É da mais elementar justiça que essas pessoas possam ver os gastos que têm com os seus animais deduzidos no IRS.
A que eleições pretendem concorrer? E pensam fazer coligações?
Nós queremos concorrer a todos os actos eleitorais. As primeiras, em princípio, serão as legislativas. Se houver eleições antecipadas, estamos a organizar-nos para concorrermos no maior número possível de distritos. Neste momento, a nossa intenção é candidatarmo-nos sozinhos, até para testar a nossa força eleitoral. O futuro dirá acerca da oportunidade e viabilidade de coligações.
E que resultados esperam obter?
Nós queremos ter representação. Admitimos que, fazendo um bom trabalho, podemos ter entre um e três deputados.
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