Uma verdadeira força-tarefa está montada na praia de Boa Viagem, no Recife, para defender o local de desova de uma tartaruga marinha. O animal depositou seus ovos numa área próxima à Padaria Globo - uma das áreas mais movimentadas da praia - na sexta-feira passada. Além de duas equipes da Brigada Ambiental da Guarda Municipal, um voluntário do Ibama resolveu literalmente acampar ao lado do ninho onde a fêmea de tartaruga verde (Chelonia mydas) enterrou cerca de 150 ovos.
Há 23 anos trabalhando voluntariamente no combate aos maus tratos animais, Adriano Artoni, de 41 anos, prometeu passar os dias (e noites) dentro de uma barraca de 4 metros quadrados, contando apenas com lanches, água e um binóculo, que o ajuda a monitorar as marés e a possível aparição de novos quelônios na região.
“É uma forma de pressionar as autoridades para que essa vigilância da brigada seja constante. São entre 45 e 60 dias para o nascimento dos filhotes, então é necessário defender o local”, explica.
Somente em caso de haver um monitoramento constante da região é possível ter boas perspectivas em relação à sobrevida dos filhotes (para que eles sejam chocados corretamente, é necessário que os ovos não sejam manipulados nem arrastados pelo mar).
No caso de risco à integridade dos ovos, contrário, o Ibama pode solicitar o auxílio do Projeto Tamar, com sede nas praias de Pipa (RN) e de Fernando de Noronha (PE), para transportar todos os ovos a uma praia mais deserta. Segundo o guarda da Brigada Ambiental Pablo Fontes, as tartarugas verdes crescem e depois de 20 anos voltam ao local onde nasceram para desovar. “Esta, por exemplo, com certeza nasceu no Recife. É preciso pensar justamente em como a área estará daqui a 20 anos. A área é muito movimentada, não oferece muita segurança”, explica.
Nos próximos dias, técnicos do Ibama e do Projeto Tamar estarão no local para avaliar os riscos aos quais os ovos estão submetidos para, somente então, decidir se haverá necessidade do transporte. Enquanto isso, a área continua isolada. Banhistas ou comerciantes que atuam na região que invadirem o espaço ou causarem danos indiretos à ninhada podem responder por crime ambiental, cuja pena varia de 6 meses a 1 ano de reclusão, conforme lei municipal nº 9.605.
Perigo – Além da ação individual, uma outra questão pode estar atrapalhando a reprodução de tartarugas marinhas nas prias urbanas de Pernambuco. Desde a semana passada, tratores vêm circulando na faixa de areia de Boa Viagem a Piedade para a realização de obras urbanísticas.
Somente em janeiro, os veículos trabalharam em três pontos de desova de tartaruga - dois no Recife e um em Jaboatão dos Guararapes. No entanto, apenas o primeiro deles, o da Padaria Globo, está devidamente isolado e identificado, o que reduz a possibilidade de destruição dos ovos.
Por Ed Wanderley
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110131142117&assunto=85&onde=VidaUrbana
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