Nutricionista se ofereceu como voluntário para combater caçadores japoneses e deve ficar por cerca de 3 meses em um navio da ONG Sea Shepherd
Afra Balazina - O Estado de S.Paulo
No dia 18 de dezembro, o nutricionista George Guimarães, de 36 anos, que dirige um restaurante vegetariano em São Paulo e outro em Santo André, recebeu um chamado às pressas para integrar o navio Steve Irwin, da ONG Sea Shepherd. Cancelou a viagem de férias com os filhos e, quatro dias depois, estava na Nova Zelândia para iniciar a missão de evitar a caça de baleias por japoneses na Antártida.
Neste momento, ele está no continente gelado e deve ficar a bordo por um período de até 12 semanas. A frota da Sea Shepherd é composta por três embarcações e patrulhará a região até o mês de março. Algumas precisarão retornar ao porto para reabastecimento. "Ficarei no navio até o momento de reabastecer, o que não pode ser previsto com muita antecedência."
Desde 1986 está em vigor uma moratória à caça comercial de baleias. Ela não tem prazo para acabar. Porém, o Japão conseguiu obter cotas para fazer a chamada caça científica na Antártida. Pode abater cerca de mil baleias por ano e, depois, vender a carne no mercado interno.
Por não concordar com a caça, o nutricionista se ofereceu como voluntário em 2009. Mas tinha pouca esperança de ser requisitado. Não tinha experiência com navegação marítima, fez apenas um curso e tirou uma licença para pilotar pequenas embarcações.
Como a campanha antártica da Sea Shepherd foi transformada em série televisiva (Whale Wars, do Animal Planet), a concorrência para integrar a equipe como voluntário era grande.
Passado o susto com a convocação, ele agora se dedica a uma atividade arriscada. Guimarães sabe dos perigos e os enumera: a área de navegação em que estão é considerada a mais perigosa do mundo, a temperatura da água é abaixo de zero e o porto mais próximo pode estar a muitos dias de navegação. "Estamos cientes dos riscos e os assumimos de maneira voluntária", diz.
No ano passado, um navio do Sea Shepherd se chocou contra um navio baleeiro - não houve feridos, mas o casco do barco rasgou. Os japoneses criticam os ambientalistas e dizem que suas ações colocam a tripulação de seus navios em risco.
Mas Guimarães alega que a ONG não usa violência. "O Sea Shepherd não ataca (os navios japoneses), mas intervém para fazer valer um tratado internacional que proíbe a caça de baleias. Uma vez que a frota japonesa reage de forma violenta, a Sea Shepherd responde usando bombas de fumaça e lançando garrafas contendo ácido butírico, que nada mais é do que uma substância de odor nauseante que impede que a tripulação trabalhe no convés dos navios", explica.
Ele ressalta que a frota japonesa lança "diretamente contra nós seus canhões de água pressurizada supergelada e projéteis de metal".
Resultados. O brasileiro já vê ganhos com a expedição. Em 31 de dezembro, foram interceptados três navios arpoeiros (Yushin Maru 1, 2 e 3). "Temos mantido esses navios ocupados desde então, o que significa que não estão caçando." O objetivo principal é encontrar o navio-fábrica Nisshin Maru, onde as baleias mortas pelos navios arpoeiros são processadas.
"Quando o navio-fábrica é encontrado, a sua rampa de carregamento é obstruída pela nossa presença e os navios arpoeiros param de caçar, pois não podem fazer a transferência da baleia morta por eles."
De acordo com ele, a ONG conseguiu cortar pela metade a cota de mil baleias que o Japão intentava matar no ano passado "e, nesse exato momento, trabalha para que eles voltem para casa de mãos vazias". Os alvos dos caçadores são baleias das espécies fin (classificada como em perigo de extinção) e minke (sobre a qual não há dados suficientes a respeito da população).
Pioneira. Entre 2007 e 2008, outra brasileira participou de ações contra a caça de baleias na Antártida: Leandra Gonçalves, de 28 anos, ficou quatro meses a bordo do Esperanza, do Greenpeace. Ela conta que estava no lugar certo e na hora certa para conseguir uma das 37 vagas no navio - precisavam de um pesquisador e Leandra havia estudado como fazer pesquisas sem matar as baleias (a chamada pesquisa não letal). Também pesou o fato de falar uma língua latina.
A ação na época também foi considerada bem sucedida pelo movimento ambientalista: enquanto perseguiam por duas semanas a frota japonesa, cem animais deixaram de ser apanhados. "Quando estão em alta velocidade, os navios não conseguem caçar", afirma.
Para ela, que hoje é coordenadora da campanha de Oceanos do Greenpeace, é por causa desse tipo de ação que há sete anos os japoneses não conseguem atingir a cota. E, segundo Leandra, a demanda pela carne também caiu. "Do ano passado para cá há um estoque de 4,5 mil toneladas de carne de baleia."
O governo japonês alega que a caça e o uso da baleia na alimentação faz parte da cultura do país. O Japão precisa importar muitos alimentos e argumenta que, com uma possível crise alimentar mundial, a tradição de comer carne de baleia pode ganhar ainda mais força.
Clique na imagem abaixo para ler a matéria completa publicada no dia 30 de janeiro de 2011 pelo jornal O Estado De São Paulo.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110130/not_imp672941,0.php
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