GERSON LOURENÇO
Quem gosta de esporte, e até quem não gosta, já viu uma série de imagens na televisão de aves atacando jogadores nos gramados de estádios de futebol. E o fato chamou a atenção em Mogi das Cruzes. Um casal de quero-quero ganhou a atenção dos frequentadores do Centro Esportivo e Recreativo (CER) do Socorro desde a última quinta-feira. Um ninho com quatro ovos, nas proximidades do grande circulo, provocou a interdição do campo de futebol do local. A medida foi adotada após ação da Polícia Ambiental, que registrou um Boletim de Ocorrência para evitar a utilização do espaço por um período de 20 dias. Assim, o portão de acesso ao gramado foi trancado com um cadeado e o fato impediu a realização de duas partidas de futebol, programadas para este domingo, que marcariam a abertura do Campeonato Sub-21 da Liga Municipal de Futebol de Mogi das Cruzes (LMFMC).
Tudo começou na última quinta-feira quando o caseiro do CER, Mário Daniel Lucherine efetuava, com uma máquina, a poda da grama do campo para a realização dos jogos de futebol.
Com a sua movimentação, as três aves que estão no local adotaram o procedimento de defesa do ninho e passaram a dar voos rasantes sobre o caseiro e ao mesmo tempo efetuando um som assustador.
O som e a agitação dos pássaros chamaram a atenção de soldados do 1º Batalhão da Polícia Ambiental, que está localizado nas dependências do Centro Esportivo.
No momento em que viu a agitação, o militar disse que se dirigiu rapidamente ao local. "Eu estava na base e verifiquei que no campo havia o ninho. Imediatamente, fui até o responsável e recomendei a paralisação dos serviços até que a ave chocasse os ovos, o que deve levar mais uns 20 dias", informou o policial na tarde de ontem.
"Existe uma lei federal que impede a retirada, ou destruição de ninhos de aves silvestres. Estamos cumprindo a legislação", disse o cabo Angelico Gustavo se referindo ao artigo 29 – parágrafo 1º inciso II da Lei Federal 9605/98.
O militar ainda informou que as aves saem do local assim que nascem os filhotes. "Os quero-queros fazem ninho em qualquer ponto onde há uma grama rasteira. O campo estava com grama alta há dois meses e a ave julgou que lá seria um ponto seguro", explicou.O cabo Gustavo disse que o administrador do centro esportivo se sensibilizou com o ninho e prontamente aceitou a recomendação. "Naquele espaço não poderá haver nenhum tipo de atividade esportiva e o corte da grama é permitido desde que se respeite um raio de 10 metros de distância do ninho", informou o militar.
E este realmente parece ser o raio de proteção da ave. Basta atingir um certo ponto do gramado em direção ao ninho para as aves iniciarem os voos de proteção ao ninho. "O pássaro de fato é arisco", detalhou o cabo. "Se chegarem perto do ninho ela vai dar os rasantes", frisou.
Com a autorização da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, que administra o centro esportivo, a reportagem de O Diário esteve no local, na tarde de ontem, com Lucherine e o coordenador do espaço de lazer, Edson J. Dalaruvera Júnior.
Logo na entrada, fomos recebidos por um casal de coruja, ave de rapina que também utiliza o solo para fazer o seu ninho. Os animais e seus filhotes ocupam uma faixa do campo, nas proximidades do portão de entrada. Elas não se agitaram com a presença das pessoas, mas ficaram observando de um ponto seguro – preparadas para defender os seus três filhotes.
Após mais uns passos dentro do gramado, Lucherine, que conseguiu cortar apenas 25% do gramado do campo, contou que não tem medo do casal de Quero-Quero e que se dependesse dele continuaria o trabalho de poda.
E para provar que não tem medo das aves, ele se aproximou e ficou bem ao lado do ninho. E bastou dar os primeiros para ter a companhia do casal de Quero-Quero, com os seus voos ameaçadores. "Elas vêm bem perto, mas chega na hora de bater na gente desviam. Eu não tenho medo", disse o caseiro, sem se intimidar com a aproximação cada vez maior dos animais.
Experiente, entre seis pessoas que visitaram o campo durante a tarde de ontem, Lucherine se aproximou do ninho e com isso permitiu a captação de imagens do ninho pela equipe de reportagem de O Diário.
De longe da cena, o goleiro Flávio Samuel, que defende o time sub-21 do Paulistinha, se mostrava contra a interdição. "Acho que deveria ter o jogo normalmente. É só dar as costas que elas vêm e desviam", garantiu.Apesar de garantir uma bela distância das aves, o goleiro salientou que é normal ter a presença de Quero-quero nas partidas. "Jogo aqui faz tempo e sempre tivemos a companhia delas. Elas não fazem nada", ressaltou o goleiro Flávio Samuel.
Até o presidente da Liga, Marcos Schiripa esteve no centro esportivo e disse que a rodada programada para o campo do Socorro será remarcada. De acordo com a tabela, o Paulistinha enfrentaria o vila da Prata neste domingo – Valtra e Dragão Negro fariam ou outro duelo. "Talvez em abril estes jogos sejam disputados. Vamos estudar uma data", afirmou o dirigente.
De acordo com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Mogi, técnicos e biólogos da Secretaria do Meio Ambiente vão observar o local na próxima segunda-feira para verificar se existe a possibilidade de transferir o ninho sem causar nenhum tipo de problema para as aves.
http://www.odiariodemogi.inf.br/noticia_view.asp?mat=22255&edit=3
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