CÉLIA FROUFE - Agencia Estado
BRASÍLIA - No momento de maior impasse entre os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura para a reformulação do Código Florestal, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) recorreu à ciência para tentar botar fim na polêmica entre produção de alimentos e preservação da natureza.
A CNA lançou esta tarde, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Projeto Biomas, que visa a identificar os diferentes potenciais de uso da terra, considerando as fragilidades ambientais e estabelecendo parâmetros para o desenvolvimento da agropecuária sustentável.
"Há 13 anos há embates entre agricultura e ambiente, e agora procuramos um árbitro imparcial, a Embrapa, que é a opção pela pesquisa, pela ciência", justificou a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), referindo-se à estatal que está subordinada ao Ministério da Agricultura.
"Mesmo que a ciência não seja perfeita, é a melhor solução que temos hoje. Queremos deixar a paixão de lado, pois o meio ambiente não é bandeira de ninguém, é bandeira de todo mundo", continuou.
O projeto prevê o estudo e determinação de áreas estruturalmente frágeis com posterior criação de seis unidades demonstrativas de 500 hectares em cada um dos biomas brasileiros: amazônico, caatinga, cerrado, mata atlântica, pampa e pantanal. Essas áreas serviriam como padrões para a produção sustentável. "Essas unidades funcionarão como vitrines, como show rooms", explicou a senadora.
Para viabilizar o projeto, a CNA destinará R$ 20 milhões, que serão distribuídos em nove anos de pesquisas para a Embrapa. A estatal reservará 60 pesquisadores da casa para tocar o projeto, mas pretende contar, ao todo, com 240 profissionais oriundos de universidades parceiras.
De acordo com o projeto, 70% dos recursos serão destinados à mobilidade dos pesquisadores. Além disso, a Confederação buscará novos recursos para aplicar na divulgação do biomas. "As pessoas precisam conhecer o projeto para que o os produtores sejam estimulados", justificou a presidente da CNA.
Além disso, o pesquisador da Embrapa Florestas, Gustavo Ribas Curcio, disse que o presidente da estatal, Pedro Arraes, também se empenhará em obter recursos para repassar ao projeto. "A Embrapa está dando importância muito grande a esse projeto. É como se a Ferrari e o (Michael) Schumacher estivessem se unindo", comentou o pesquisador, numa analogia automobilística.
Até o final deste ano, os pesquisadores devem aprofundar os trabalhos em dois biomas, a mata atlântica e o cerrado, onde está concentrada a maior produção de alimentos do Brasil. "É onde está a crise (meio ambiente e agropecuária).
A Amazônia é mais polêmica, mas está mais preservada e já há o programa de desmatamento zero lá", disse Kátia Abreu. "A cada dois anos, o pesquisador bota o pé no barro em dois biomas", disse Curcio.
Em três meses, no máximo, segundo o pesquisador, começarão os trabalhos nos dois primeiros biomas. Assim, de acordo com ele, o primeiro resultado de informação científica começará a ser gerado em sete ou oito meses. "Existem respostas que podem sair muito rápido, ainda este ano, e outras de médio e longo prazo", disse.
Os profissionais da Embrapa já começaram a compilar mapas para escolher qual é o ponto mais representativo dentro de cada bioma. "Queremos a maior extrapolação possível. Não nos interessa muito pontual", explicou. As áreas escolhidas serão todas privadas e precisarão do consentimento de seus proprietários para serem avaliadas.
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