Tartaruga marinha de 1,20m está em tratamento no Cram

O Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Cram), do Museu Oceanográfico da Furg, recebeu, no final da tarde de quinta-feira, um novo e grande "paciente". Trata-se de uma tartaruga-de-couro, (Dermochelys coriacea) ou gigante, como também é chamada, juvenil, de 1,20m de comprimento e peso de 101,5 quilos, sem a nadadeira anterior esquerda. O animal marinho foi encontrado por populares na beira da praia, no entorno da Lagoa do Peixe, em Mostardas, recentemente. Seu aparecimento foi comunicado à equipe do Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade (ICMBio) que atua no Parque da Lagoa do Peixe, a qual fez contato com o Centro de Recuperação. Quinta-feira, técnicos do "hospital" de animais marinhos foram buscá-la para fazer a reabilitação.

Esta é uma das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral gaúcho e é criticamente ameaçada de extinção em todo o mundo. É um animal oceânico, que se alimenta de gelatinosas, como a mãe-d'água, e mergulha até 1000 metros de profundidade atrás de alimento. Na idade adulta, chega a ultrapassar dois metros de comprimento e a pesar mais de 700 quilos. Sobre a falta de uma nadadeira, o veterinário Pedro Luis Bruno Filho, do Cram, explicou que, como esta espécie tem nadadeiras muito grandes, elas enroscam em redes de pesca, os pescadores não conseguem puxar o animal para o barco, devido ao peso, e para não matá-lo cortam a rede. A tartaruga fica com pedaço de rede enrolada na nadadeira por dias, meses ou anos. Na medida em que o animal engorda, a rede vai comprimindo sua nadadeira, dificultando a circulação do sangue e fazendo-a necrosar, até que ela cai.

Ao perder uma nadadeira, a tartaruga marinha se adapta, mas fica em desvantagem no que se refere à busca de alimentação, fuga de predadores e mudanças climáticas. E quando ocorrem ressacas, não consegue nadar e é jogada na praia, onde é bicada por aves marinhas. Essa espécie não sai da água, a não ser para desovar, o que só acontece no Espírito Santo, segundo Bruno Filho. O exemplar que está no Cram tem lesões na cabeça, nadadeira e casco produzidas por aves. Ao chegar ao Centro de Recuperação de Animais Marinhos, a tartaruga-de-couro recebeu hidratação, antibióticos e limpeza dos ferimentos. Ela é mantida úmida, em uma piscina. Conforme o veterinário Rodolfo Pinho da Silva, também do centro, ela ainda deve ficar quatro ou cinco dias em tratamento. Depois, será reconduzida ao mar.

Parceria

A chefe do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Maria Tereza Queiroz de Melo, relatou que no dia 12 deste mês essa tartaruga já tinha aparecido na praia, nas proximidades do Parque. Veranistas a viram e informaram à equipe do ICMBio, que foi vê-la e, considerando a dificuldade de manter este tipo de animal em cativeiro devido ao seu hábito alimentar e necessidade de ficar na água, reintroduziram-na no mar aproveitando o vaivém das ondas. Na última quarta-feira, populares comunicaram o reaparecimento dela. "Como ela estava debilitada, mudamos o procedimento. Fizemos contato com o Cram e a retiramos da praia. Técnicos do Centro de Recuperação buscaram-na em Mostardas. Foi uma parceria muito importante, na qual cada um fez um pouco, para se ter um resultado positivo", observou Maria Tereza.

A expectativa da chefe do parque agora é que, uma vez recuperada, a tartaruga seja liberada em alto-mar, considerando que ela é de alto-mar e tem ausência de uma nadadeira. Maria Tereza também diz que essa mutilação é comum por causa das redes de pesca.

Carmem Ziebell

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