segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tucuruí: potencial para a conservação de espécies

Mais de dez anos de pesquisas sobre o comportamento de primatas da região amazônica, mostraram à pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Liza Maria Veiga, que quase 30 % desses animais estão ameaçados de extinção e a perda de habitat causa um aumento no número de espécies que necessitam de medidas de conservação.

Para estabelecer tais medidas é necessário que cientistas estejam interessados em integrar ecologia comportamental e conservação. Veiga sabe que há pouca integração entre essas duas áreas do conhecimento, pois seguem diferentes níveis de estudo e escala de tempo, o que, no entanto, não impede que se construam pontes de comunicação e esse é um dos objetivos da biologia da conservação.

Cuxiú-preto  (Foto: Eduardo L. Paschoalini / Museu Goeldi)
Cuxiú-preto (Foto: Eduardo L. Paschoalini / Museu Goeldi)
Cuxiú-preto -
A pesquisadora através do projeto “Ecologia, Organização Social e Conservação do Cuxiú-preto (Chiropotes satanas)” aprofunda o conhecimento sobre a ecologia e a organização social do Chiropotes satanas na paisagem fragmentada de Tucuruí, no sudeste do Estado do Pará, onde testa metodologias para a implementação de um projeto de monitoramento da ecologia e comportamento desta espécie na região.

O Cuxiú-preto é um primata que se alimenta de frutas, flores, folhas e castanhas. É considerado o mais ameaçado dentre todos os primatas da Amazônia brasileira, pois ocorre em uma região de colonização histórica, acentuada mais recentemente pela implantação da indústria de extração mineral e do Projeto Grande Carajás. Está classificado como espécie vulnerável pela IUCN (1978) e em perigo pela USDI (1980).

Atualmente, os cuxiús-pretos habitam áreas pequenas, com média de 20 hectares. Segundo Veiga, isto demonstra que as áreas analisadas não estão sob pressão de caça, o que faz com que os animais se sintam protegidos e dispensem grandes áreas para habitar. Segundo estudo anterior, do pesquisador Marcio Ayres, esses animais precisavam de 200 a 500 hectares para sobreviver.

Pioneirismo de José Márcio Ayres - Cientista paraense que tornou-se um dos pesquisadores brasileiros mais respeitados e premiados na área de Conservação da Biodiversidade. Ainda muito jovem já era reconhecido como um dos mais importantes primatólogos brasileiros.

Estudando a sócio-ecologia do Cuxiú-preto na região norte de Mato Grosso e no Pará, deparou-se com ameaças à floresta, e sensibilizou-se sobre a importância de áreas-chave para a conservação da biodiversidade brasileira. Márcio Ayres encontrou o que seria seu principal objetivo: criar e gerir unidades de conservação em áreas ecologicamente importantes para promover a conservação da biodiversidade brasileira.

Caiarara - A pesquisadora do Museu Goeldi desenvolve também estudos com o primata caiarara (Cebus kaapori), uma das espécies de mamíferas considerada como “Criticamente em Perigo de Extinção”, o Cebus kaapori ainda é pouco conhecido, tendo sido descrito cientificamente como espécie em 1992.

Pertencente ao mesmo gênero do macaco-prego é uma espécie endêmica e sua área de distribuição coincide com o chamado “Arco do Desmatamento”. Veiga analisa a viabilidade populacional para a espécie, que num futuro próximo ajudarão a formular diretrizes para sua conservação e manejo.

Um ponto em comum entre os estudos sobre Cuxiú-preto e Caiarara é que as ações futuras devem ser pensadas em conjunto com os atores das comunidades locais que interferem diretamente no ecossistema desses animais.

Um bom indício resultante dos estudos é de que as áreas analisadas de Tucuruí “têm bom potencial de conservação, mas ainda há necessidade de mais pesquisas que levem em consideração dados demográficos e influências externas”, informe Lisa Veiga. Para ela, as pesquisas precisam também ter a capacidade de fazer projeções do tamanho e das formas das reservas, além de definir orçamento das atividades para criar estratégias de monitoramento.

(Ascom/Museu Goeldi)

http://www.diariodopara.com.br/noticiafullv2.php?idnot=79799

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