Higo Lima - Jornal de Fato
A situação da Leishmaniose em Mossoró não é das melhores. Os índices têm feito a cidade amargar um crescimento no número de incidência de casos nos últimos dez anos. Segundo dados do relatório do Programa Municipal de Controle da Doença, em 2000, por exemplo, foram diagnosticados 18 casos em humanos; já no ano passado, esse número saltou para 40.
A cada ano, o número de infestação oscila, porém sempre mantendo uma média de 22 casos por ano. O problema se intensificou nos últimos três anos, isso porque já foram registradas nove mortes neste período. Foram duas em 2007, cinco em 2008 e duas no ano passado.
Na última década, 140 casos já foram registrados pela Vigilância Sanitária da cidade. O alto índice de infestação classifica Mossoró como um caso endêmico, ou seja, quando é constante o aparecimento de casos. A vigilância sanitária tem intensificado as ações, embora o número de casos ainda não tenha diminuído. E há uma explicação para este surto.
De acordo com a coordenadora do programa de controle, a médica-veterinária, Alane Medeiros, hoje a doença tornou-se eminentemente urbana devido à extensão da zona urbanizada da cidade e, em consequência do crescimento imobiliário, mais áreas foram devastadas deixando o mosquito desfalcado do seu habitat natural. Em 2000, para cada 14 casos da zona urbana, quatro apareciam no perímetro rural.
Outra característica da doença é o grande hiato entre homens e mulheres contagiadas. Em 2001, para cada 12 homens com doença, apenas quatro mulheres eram vítimas de Calazar. O caso já virou preocupação na saúde pública, sendo ainda mais sério porque, desde 1998 as crianças até nove anos têm sido as maiores vítimas. De 1998 a 2002, cerca de 46% dos doentes tinham até nove anos de idade. O segundo grupo com maior recorrência era entre os de 20 a 49 anos, com 3% dos casos.
“O diagnóstico precoce dos pacientes é fundamental para que consigamos reduzir a letalidade”, comenta a veterinária, instruindo que há cura para doença, quando tratada a tempo. O tratamento dura em média 20 dias a um mês. Mesmo havendo cura, o retardamento do diagnóstico pode ser fatal. O relatório da Vigilância estima que em 90% dos casos tratados não consegue evitar o óbito.
Concentração de casos nos bairros
De 2000 a julho do ano passado, mais de 180 casos já havia sido diagnosticado no perímetro urbano de Mossoró. Em contrapartida, esse percentual caiu para dez, no mesmo período na zona rural da cidade. O bairro Abolição lidera o ranking com 28 casos confirmados, deve-se considerar a distribuição populacional da cidade, onde mais de 10% da população está concentrada nessa área.
Em seguida vem o Rincão, que acumulou 21 casos; já em terceiro lugar a região do Aeroporto, respondendo por 19 casos confirmados e o Belo Horizonte que registrou 13 casos. Das 31 comunidades rastreadas pelo relatório de Leishmaniose do Município, apenas as localidades de Itapetinga, Santa Júlia e o Centro mantiveram-se imunes ao Calazar nos últimos dez anos.
No primeiro mês deste ano, seis casos já foram diagnosticados, sendo que um dos casos foi vitimado com o óbito.
Segundo a veterinária Alane Medeiros, um dos motivos que explicam a alta incidência de casos em determinados bairros é a questão ambiental. “O mosquito se prolifera basicamente em áreas com alta demanda de lixo. Localidades que há um controle maior dos resíduos, consequentemente há chance menor do vetor se reproduzir”.
De acordo com a gerente executiva de Saúde, Jacqueline Amaral, as capacitações fazem parte de uma estratégia para combater a doença em Mossoró. “A questão do Calazar é séria, e merece toda nossa atenção. No ano passado, registramos 40 casos de Calazar humano e duas mortes. Esse ano quatro casos já foram confirmados. Não podemos aceitar a evolução desses números e por isso estamos fazendo uma série de ações para reverter essa situação”, falou Jacqueline Amaral.
Vigilância adota medidas de combate
Para evitar a proliferação do mosquito que transmite o calazar, a Vigilância Sanitária de Mossoró implantou algumas medidas de combate ao vetor. Entre elas a borrifação de inseticidas a cada quatro meses, a orientação a pessoas que criam cães, a retirada dos animais com sorologia positiva, além da captação de animais de rua e inclusive a eutanásia de animais contaminados.
A coordenadora do programa médica-veterinária, Alane Medeiros, alerta ainda para a necessidade da conscientização da população. “Os técnicos realizam palestras educativas em escolas, além de constantes capacitações para informar a população sobre os cuidados que se deve ter e assim evitar a proliferação da doença”.
Uma delas foi realizada na última quinta e sexta-feira, um treinamento com gerentes, enfermeiros e assistentes sociais das Unidades Básicas de Saúde para que possam atuar nas ações de combate à Leishmaniose Visceral (Calazar). O treinamento é uma ação conjunta do Departamento de Vigilância em Saúde, Centro de Controle de Zoonoses e a coordenação de Educação em Saúde.
http://tribunadonorte.com.br/noticia/calazar-deixa-mossoro-em-alerta/142346
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